quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Sala de Professor

Formação de Professores e Projetos de formação elaborados pelas escolas.

Discutir a formação de professores no contexto atual obriga-nos a refletir sobre a situação que se encontra a educação no Brasil e de modo particular no Estado de Mato Grosso.

Pesquisas apontam que Mato Grosso ocupa o 3º lugar no País no quesito formação de professores, o que não significa ainda, qualidade do ensino oferecido, haja vista que os índices apontados pelo IDEB de 2005 e 2007 mostram que precisamos melhorar para chegarmos à qualidade almejada, embora tenhamos avançado.

É inegável que a formação do professor é importante para que um ensino de qualidade e a aprendizagem dos nossos alunos seja, significativa e preponderante na formação e no desenvolvimento do País e do Estado.

Paulo Freire em seu livro: Pedagogia da Autonomia, afirma que a educação por si só não transforma a sociedade, mas a sociedade sem educação não se transforma. Nesta perspectiva de pensar a educação como um dos fatores que leva a transformação da sociedade, Henry Giroux, em seu livro “Os Professores como Intelectuais Transformadores”, aponta-nos para um aspecto peculiar: o professor é este agente transformador.

Ao encarar os professores como intelectuais podemos elucidar a importante idéia de que toda atividade humana envolve alguma forma de pensamento (...) este ponto é crucial,pois ao argumentarmos que o uso da mente é uma parte geral de toda atividade humana, nós dignificamos a Capacidade humana de integrar o pensamento e a prática, e assim destacamos a essência do que significa encarar os professores como profissionais reflexivos (...) eles devem ser vistos também como homens e mulheres livres, com uma dedicação especial aos valores do intelecto e ao fomento da capacidade crítica dos jovens”. ( GIROUX, 1997,p. 161)


O exercício da docência nos remete a esta função, além do caráter pedagógico do ensinar e aprender, o ensino leva os alunos a serem cidadãos críticos e transformadores na sociedade em que vivem.

A formação continuada de professores é vista como desencadeadora desse longo processo de transformação, porém, não devemos encará-la como uma obrigação da profissão docente, mas como elemento essencial na realização pessoal e profissional, como nos lembra Jenifer ( 2002 ): “ O professor é pessoa, uma parte importante da pessoa é o professor”. Com isto, verifica-se que em primeiro lugar quando se discute a formação do professor, seja ela inicial ou continuada,não podemos perder de vista o seu Ser pessoa, seus sentimentos, seus desejos, suas dificuldades, seus sonhos e suas experiências de vida.

A formação de professor tornou-se objeto de estudos e investigação de muitos teóricos e não falta literatura a este respeito. Maria Vera Candau, especialista na área da educação, mostra-nos que há pelo menos duas tendências no Brasil. De um lado, o que ela chama de tendência clássica, que focaliza a Universidade como lócus da formação do Professor ( inicial e continuada) e do outro lado, a tendência atual, que focaliza a Escola como lócus da formação continuada em serviço para o professor.

Mesmo que este é o discurso das políticas atuais sobre formação continuada na perspectiva da valorização do espaço escolar, onde de fato se efetiva o exercício da docência, é importante discutir que formação está sendo disseminada neste espaço ? Qual a qualidade desta formação? Que resultados concretos em termos de aprendizagem dos alunos, têm-se obtido a partir dos estudos realizados pelos professores nestes momentos de formação? Será a nota do IDEB dá parâmetro seguro para afirmar resultados provindo dos estudos da formação continuada na escola?

Questões como estas nos fazem repensar os projetos de formação continuada elaborados pelas escolas.Ou melhor, elaborado pela coordenação da escola.Salva-se raras exceções.

Diante das diversidades temáticas apontadas nos projetos de formação elaborados e enviado pelas escolas ao CEFAPRO de Alta Floresta-MT e considerando a análise realizada destes projetos, segue-se algumas conclusões:

1ª- Ausência de metas claras voltadas para a melhoria da aprendizagem dos alunos, o que nos remete ao pensamento de um “estudar por estudar”.

2ª - O foco dos projetos, ,na maioria das vezes, centraliza o professor e não a aprendizagem do aluno;

3ª- Dos projetos elaborados, grande parte, não apresenta com clareza, qual o problema que justifica o estudo temático na escola. “Não havendo clareza em relação ao problema que se quer resolver, a escolha aleatória dos textos justifica sua imprecisão.”

4ª- As temáticas dos projetos, em sua grande maioria, não revelam problemas de aprendizagem de conteúdos pelos alunos, o que contraria os índices apontados nas Provas Brasil, Enem entre outras.

5ª- Das ações elencadas para a realização do Projeto, quase a totalidade, não contempla o tema e nem os objetivos propostos. Ou seja, o objetivo aponta para uma direção e as ações não concretizam os objetivos.

Diante desta análise, vale à pena relembrar o que diz Pedro Demo (2004 ) em relação aos professores.Segundo ele, para atingir patamares aceitáveis de qualidade educativa, a estratégia primordial é resolver a questão dos professores. Que questões são estas? Valorização Profissional e Competência Técnica.

A respeito desta última, afirma:

Poderíamos colocar como meta para a qualidade do professor a capacidade de elaborar projeto pedagógico próprio. Para tanto, é mister competência formal e política(...) a alma da formação básica é aprender a aprender, saber pensar, informar-se e refazer todo dia a informação, questionar.(...) a grande maioria dos professores não conseguiram sequer colocar a questão em pauta, porque jamais conseguiu produzir com mão própria. (DEMO, 2004, p.88)


Fica então, mais um questionamento: Valorizar o que a escola construiu significa deixar como estava ou apontar algumas alternativas e intervir no sentido de melhorar o que se propuseram fazer?

De acordo com o Parecer Orientativo nº002/2009 da Superintendência de Formação dos Profissionais da Educação, referente ao Desenvolvimento do Projeto Sala de Professor para o ano de 2009, o mesmo pontua que o Papel dos Cefapros para a implantação e implementação do Projeto Sala de Professor é, impreterivelmente, o de orientar, aprovar, intervir e avaliar os projetos elaborados pelas Unidades Escolares.

Investir na formação de professores significa investir na qualidade da educação que tanto almejamos neste País. Isto tem a ver com atitude, vontade e ação.



Referência Bibliográfica


DEMO, Pedro. Desafios Modernos da Educação. 13.ed.Petrópolis; RJ: Vozes,2004.


GIROUX, Henry A. Os professores como intelectuais: rumo a uma pedagogia crítica da aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas,1997.


CEFAPRO, Projetos do “Sala de Professor elaborado pelas Escolas Estaduais do Pólo de Alta Floresta-MT: 1ª Versão, 2009.



Professor: Carlos Alberto Cardoso

Professor de Filosofia na UNIFLOR.

e-mail: cardoso.professor.carlos4@gmail.com